Nossa musculatura sempre reage de acordo com as experiências que temos. Quando experimentamos desprazer ela se contrai. Ao contrário, quando sentimos prazer ela relaxa e expande. Este mecanismo orgânico natural permite nossa sobrevivência e regula nossas funções organísmicas.
Temos diversos mecanismos para nos regular organicamente. Bocejos, choros, gritos, gemidos, tremores, expulsão de líquidos, por exemplo são comportamentos fisiológicos naturais que quando interrompidos, geram contrações musculares crônicas.
O bloqueio de nossas manifestações organísmicas criam tensões que podem se acumular na forma de nódulos musculares que, quando acumuladas criam pontos de dor e imobilidade. O organismo saudável não é aquele que nunca se tensiona e sim aquele que tem a capacidade de voltar ao estado natural de relaxamento.
O médico austríaco Wilhelm Reich estudou profundamente a relação da musculatura com o corpo. Aluno de Freud, foi um dos precursores da visão psicossomática da vida.
Reich foi um dos primeiros terapeutas a entender tanto fisiológica como psiquicamente como nosso corpo funciona na sua relação com as emoções. As buscas de Reich para entender isso começou em seus movimentos políticos para melhorar a saúde mental. Logo teve que se ater aos processos individuais, no sentido de entender como um ser humano funciona para depois entender como uma sociedade funciona.
Reich viu que nosso organismo funciona por uma série de mecanismos de tensão e descarga, seguindo um movimento fluído de contração e expansão. Em suas experiências laboratoriais, viu que a tensão bioelétrica do organismo se concentra na parte interior do corpo quando este experimenta uma sensação de desprazer. Sua energia toda se condensa mais na parte central do corpo, num movimento simpaticotônico. Em contrapartida, em um movimento de expansão, o corpo quando sente prazer, esta circulação bioelétrica se dá por todo o corpo
Através de seus estudos, descobriu em nosso corpo sete grandes segmentos, aos quais chamou de anéis de couraça:
1 – Ocular
– Este é responsável por todos os nossos mecanismos sensoriais. A ectoderme, no tecido embrionário é o mesmo folheto que dá origem cérebro e à pele. Neste segmento temos praticamente todos os nossos sentido (olfato, audição, visão, tato), faltando apenas o paladar, que também tem bastante ligação com o olfato. Uma desorganização da energia desta área gera uma hiperativação de maneira que estes sentidos fiquem bastante estimulados onde a pessoa tenha sensações além das normais, como por exemplo ouvir, sentir e ver coisas que não estão lá. Este segmento tem relação com o pensamento e a desconexão entre o mundo mental e a realidade.
2 – Oral
- Compreende a mandíbula, maxilar e todos os músculos envolvidos na fala, expressão e mastigação. Fala sobre como nos expressamos no mundo e como introjetamos o mundo. Metaforicamente, é como mastigamos as experiências que vivemos para trazer para dentro de nós. Logo, fala sobre vínculo, agressividade, expressão verbal. A boca é o canal de comunicação entre nosso interno e externo.
3 – Cervical
– Corresponde aos músculos que ligam o crânio ao tórax. Associado principalmente a controle. Quando queremos controlar qualquer sensação corpórea, tensionamos primeiramente o pescoço, por exemplo choro, dor, alegria, raiva etc. a musculatura do pescoço também controla nosso tom de voz e é por onde verbalizamos sobre nosso eu, sobre como falamos de nós mesmos.
4 – Torácico/escapular
- que compreende também os braços. A relação deste é com o desenvolvimento do Eu no mundo. Valor pessoal, ego e como este se desenvolve nas relações. Os braços tem múltiplas funções para nossa sobrevivência, segura, empurra, cumprimenta, soca, cura, demonstra amor.
5 – Diafragmático
– Região do diafragma, logo abaixo das costelas. O Diafragma é o principal músculo de nossa respiração. Seu movimento cria a pressão negativa que permite o ar entrar pelas vias aéreas. Sentimos a vida e o mundo na mesma medida que respiramos. Logo este segmento é de imensa importância para a fluidez de nossas emoções e sensações instintivas orgânicas. Tem relação com a respiração, ansiedade, fonação, riso, choro e espontaneidade.
6 – Abdominal
- Tem relação com aquelas experiências mais primitivas. Os chineses dizem que a barriga é nosso segundo cérebro. Temos um cérebro intelectivo na cabeça e um cérebro visceral no abdômen, onde neste há aquelas emoções que não fazem sentido e geralmente são as que mais mobilizam energia. Além de absorver e assimilar alimentos, também o faz com as emoções. Sentimentos mal digeridos ficam armazenados enquanto tensões musculares abdominais, retendo gases e fezes no intestino grosso. Associado ao apego material e ao medo da perda de controle.
7 – Pélvico
– Compreende a região abaixo do umbigo até os pés. Tem relação com a sexualidade, segurança, vitalidade e criatividade. Região responsável pela libido e na manifestação de nosso desejo. A forma como nos sustentamos na vida reflete tem relação com nossas pernas e pés. Associado ao medo de entrega e bloqueio ou fluidez do prazer.
Os estudos de Reich levaram ao entendimento no mundo ocidental desta relação entre corpo e emoções, bem como a compreensão de como a sociedade cria corpos adequados ao sistema produtivo. Muitos autores derivaram suas teorias a partir dos estudos reichianos, mostrando como muitas doenças são criadas a partir do bloqueio da musculatura. Neste mesmo sentido, criou-se diversas terapias que tem por base esta compreensão.
Não é possível mudarmos se nosso corpo permanece o mesmo. É a partir de novas configurações corporais que também desenvolvemos novos comportamentos e posturas na vida.
E ai, como anda sua relação com seu corpo?